sábado, 19 de outubro de 2019

Maravilhas da Roça

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Causos

O barba de ouro e a carantonha

Havia um rei que tinha uma bonita barba de ouro. E um dia ele foi chamado ao quarto da rainha para ver a criança que acabava de nascer. Mas esse barba de ouro era encantado e mau. Assim que viu o lindo menininho, pegou e foi comendo-o à vista de todos. A rainha, quando de novo estava esperando outra criança, combinou com a comadre para lograrem o rei. Arranjaram um coelhinho. Chamaram o barba de ouro e lhe apresentaram o filho. Ah! O rei comeu o coelhinho e gostou. A comadre levou a criança, que era uma menina, para criar por uns camponeses a um outro reinado. A menina foi crescendo, crescendo. Os pais adotivos eram pobres, não sabiam o que fazer com ela. E já estava em ponto de casar. Então mataram uma ovelha, tiraram-lhe a pele e vestiram com ela a mocinha, que ficou que nem um bicho. A madrinha, que era uma fada, pôs-lhe no dedo um anel que era para ela pedir o que precisasse. E subiram as água-furtadas da casa, despediram-se da moça e, dizendo-lhe que se fosse com Deus, pelo mundo, empurraram-na da janela. Aquela coisa foi, foi, ao leu do vento e, enfim, caiu na floresta. O bicho ficou por ali, quieto. Ouvia as cornetas: tu, tu, ru, tu, e latidos dos cães. O rei estava à caça. E então apareceram os caçadores e já levavam a arma à cara, quando o rei ordenou: não atirem! O rei desse reinado era moço e curioso. Achou esquisito aquele bicho que falava como gente. Levou-o para a cozinha do palácio e pôs-lhe o nome de Carantonha. A Carantonha assistia às festas de longe. Uma ocasião ouviu contar, na cozinha, de três grandes bailes que o rei ia dar em seguida, para escolher a sua noiva. Em todo o reinado, era um reboliço fora dos costume e costureiras e alfaiates não tinham mãos a medir. As moças queriam ser princesas. O rei gostava de ver sempre a Carantonha, que lhe prestava serviços, muito humilde. Carantonha segurava a bacia de prata para o rei lavar as mãos. – Vossa majestade me deixa ir na festa? - Tu, Carantonha? O rei falou assim e borrifou o rosto dela, brincando. O que é que ela ia lá fazer? Carantonha saiu chorando para o seu cantinho da cozinha. Só então é que se lembrou do anel. Esfregou-o e disse: - Anel, pelo poder que Deus te deu, quero que me arranjes um vestido cor da terra e uns chapins muito bonitos! – Imediatamente Carantonha viu-se transformada naquela princesa mais bonita e procurou as salas de baile sem que ninguém percebesse. Opa! Foi um sucesso! O rei dançou com ela e quase só com ela. Perguntou-lhe donde era e Carantonha respondeu: - Eu sou da terra dos borrifos de água. E tratou de sair despercebida, para a cozinha, vestindo de novo a pele de ovelha. No outro dia a criadagem não falava de outra coisa: da nova princesa que aparecera e ninguém sabia de que reinado era. Quando ela foi apresentar a toalha ao rei, pediu-lhe licença para ir ao baile. O rei atirou-lhe a toalha: - Tu, Carantonha? Lá foi a moça para o seu cantinho da cozinha, esfregou o anel, e: - Hoje quero um vestido cor de céu. E já estava como uma princesa. E foi entrando com jeito no salão. Opa! Que sucesso! O rei dançou com ela até a madrugada. Perguntou-lhe donde era. – Eu? Eu sou da terra do joga a toalha. E tratou de escapulir-se. No terceiro dia, enquanto o rei lavava as mãos depois do jantar, Carantonha pediu-lhe outra vez a licença para ir ao baile. – Tu, Carantonha? E o rei deu-lhe um tapinha na cara, brincando. A moça pediu ao anel o vestido cor do mar, muito mais lindo que os outros. E entrou no salão. Já o rei foi recebê-la e dançaram, dançaram. – Donde és, bela princesa? Quero casar-me contigo, disse-lhe o rei. – Eu? Eu sou da terra do leva um tapa. Mais tarde a Carantonha escapou e foi vestir sua pele na cozinha. Estava acabando o baile. O rei resolveu descobrir o enigma. A princesa acabava de desaparecer. Devia estar ainda no palácio. O rei mandou a polícia ocupar todas as saídas e quando as moças iam saindo examinava uma por uma a ver-lhe o vestido cor do mar e as feições do rosto, que muito bem lembrava. Nada! Ninguém! Examinou depois as camareiras do palácio. Carantonha pediu ao anel o mesmo vestido cor do mar, cobriu-se com a pele e ficou esperando. O rei estava certo que ninguém saíra. E então só faltava examinar a Carantonha. Ele já andava desconfiado. Por isso chegou de repente, puxou a espada e rasgou-lhe um pedaço da pele. Apareceu o vestido – Ah! É assim? – disse o rei, riscou a pele de alto a baixo e Carantonha apareceu se rindo, nos modos e no porte de uma princesa. Os cortesãos estavam admirados! Que coisa! Mas o rei, meio carrancudo, interpelou a moça. – Tu estavas zombando de mim? Olha, que eu não sou para brincadeiras. Porque é que me dissestes que era da terra dos borrifos de água? - Ué! Então vossa majestade não se lembra mais que quando pedi para ir ao baile da primeira noite me esborrifou a água no meu rosto? - Ah! Tens razão. E porque na segunda noite disseste seres da terra do joga a toalha? - Porque vossa majestade, quando pedi para ir ao baile, me jogou a toalha. – Ah! É verdade. E na terceira noite tu erra da terra leva um tapa. – Pois sim! Vossa majestade, quando lhe pedi para ir ao baile, me deu um tapa, brincando. Em seguida, o rei apresentou a noiva aos cortesãos e convidados, marcou-se o dia das bodas. À hora do banquete, a nova rainha, como era costume, contou uma história. A história dela, a sua infância escondida, a caçada real, a madrinha boa fada. O barba de ouro era falecido, e a rainha mãe dela. Os pais adotivos vieram morar no palácio. Parece que ainda existem, arcadinhos, arcadinhos, mas contentes da vida!

histora da musica

HISTÓRIA DA MÚSICA





Não se pode jamais falar sobre música sertaneja raiz sem mencionar Cornélio Pires e o caminho por ele desbravado - e que por outros também foi trilhado -, pois foi graças a ele que chegaram aos discos as primeiras gravações dos genuínos caipiras, a partir de 1929.

"CORNÉLIO PIRES" nasceu em 13 de julho de 1884 na chácara de seus tios no Bairro de Sapopemba em Tietê, estado de São Paulo.

Filho de Raimundo Pires e Anna Joaquina de Campos (Dona Nicota). Segundo confidenciou a amigos posteriormente, devia chamar-se Rogério, mas na hora o padre, velho e surdo, ouvindo muito mal entendeu Cornélio, e assim ficou.

Morou também em Santos, Botucatu e Piracicaba, exercendo atividades de tipógrafo, repórter, professor de educação física.

Em 1910 lança seu primeiro livro "Musa Caipira" com enorme sucesso. Produziu um total de 24 livros onde se destacavam: "Quem Conta um Conto", "Cenas e Paisagens de Minha Terra", "Conversas ao Pé do Fogo", entre outros.

Corria o ano de 1929, o Brasil enfrentava uma crise semelhante a esta em que vivemos hoje. Cornélio já firmava nome ao lado de Setúbal, Valdomiro Silveira entre outros.

Como abraçara o dialeto caipira desde 1910 com "MUSA CAIPIRA" botou a idéia na cabeça de que também devia colocar em discos as suas anedotas e a autêntica música caipira. Já residia em Piracicaba, e sabia que lá existia autênticos cantadores e violeiros. Já fizera apresentações com Nitinho e Sorocabinha. Então tentou gravar, mas as gravadoras não aceitavam o gênero caipira. Cornélio insistiu e bancou do próprio bolso uma gravação de 6 discos (de 5 mil de cada disco). Pagou adiantado, foi à Piracicaba e lá organizou a sua famosa "TURMA CAIPIRA CORNÉLIO PIRES", que na sua primeira fase era composta por Arlindo Santana e Sebastiãozinho (Sebastião Ortz de Camargo), Zico Dias e Ferrinho, Mariano da Silva e Caçula, Mandi e Sorocabinha (Olegário José de Godoy). Os discos saíram em maio de 1929 com 9 números de humorismo interpretados pelo próprio Cornélio Pires e mais 3 danças paulistas, - um samba paulista, um desafio, e intercalados uma cana verde e um cururu pela "TURMA CAIPIRA CORNÉLIO PIRES".

Já no segundo suplementode 5 discos, foi que a dupla Mariano e Caçula gravou e lançou em outubro de 1929 a primeira moda-de-viola gravada no Brasil "JORGINHO DO SERTÃO". A segunda música gravada foi "A MODA DO PEÃO" (OI VIDA MINHA) e a terceira foi "BIGODE RASPADO", todas por Mariano e Caçula. Cornélio e sua turma caipira, viajaram por vários municípios do interior de São Paulo.

Fizeram apresentações na capital sempre com muito sucesso. Tinha de repetir as apresentações, a pedido do público. O fracasso em que o diretor da gravadora Colúmbia apostou, não aconteceu. As pessoas faziam filas na gravadora tentando adquirir os discos. Saíram reedições dos discos. Gravou 104 músicas em 52 discos de 78 rotações, de 1929 a 1930.

Esses discos além da "TURMA CAIPIRA CORNÉLIO PIRES" trazia músicas de Raul Tôrres, com o pseudônimo de Bico Doce, e de Paraguassu, com o pseudônimo de Maracajá, e também de outros artistas que gravaram na "SÉRIE CORNÉLIO PIRES", - discos de selo vermelho, que só Cornélio podia vender.

Novas duplas surgiram, tais como: Nhô Pai e Nhô Fio, Xerém e Tapuia, Palmeira e Piraci, Alvarenga e Ranchinho, entre outros.

Cornélio Pires saía com dois carros anunciando as apresentações e lançamento do disco. Um dos carros ia apertadinho de discos e livros.

Lançada a semente do sucesso, foi aparecendo mais gente e melhorando tudo, definitivamente, o grande público começou então, a ouvir a música dos caipiras. Nas décadas seguintes, apareceram grandes nomes e bons compositores, melhoraram o lingüajar falado e escrito, a música deixou de ser folclore para chamar-se "música sertaneja". Cornélio ficou conhecido como o "Bandeirante do Folclore Paulista".

Morreu em São Paulo, em 17 de fevereiro de 1958, aos 74 anos.

DÉCADA DE 20
Não se pode jamais falar de música caipira sem mencionar o nome de Cornélio Pires, que foi através dele que o caipira chegou à mídia. A música caipira existe há muitos anos, porém não era divulgada.

Cornélio Pires em 1910 escreveu seu primeiro livro por nome "Musa Caipira". Na época ele foi apontado como louco, por escrever um livro voltado para o homem do campo, quando no Brasil 83% da população era analfabeta. Muitos outros livros vieram durante toda a década de 10 e 20, até que em 1929, Cornélio Pires foi mais além. Desta vez ele quis trazer o caipira para o mundo fonográfico.

Foi então que ele procurou na época o diretor da Gravadora Colúmbia, que achou um absurdo a idéia de gravar caipira. Pediu-lhe um alto valor antecipado pra gravar uma tiragem de apenas 1000 discos e a distribuição seria por conta do próprio Cornélio, com a intenção de que ele desistisse da idéia.

Mas Cornélio não desistiu. Voltou pro interior, e conseguiu emprestado uma determinada quantia pagando antecipado 6 discos (de 5 mil de cada disco). Foi então que em maio de 1929 é lançado no mercado os seis primeiros discos de 78 rotações da "Turma Caipira Cornélio Pires", que na sua primeira fase era composta por Arlindo Santana e Sebastiãozinho (Sebastião Ortz de Camargo), Zico Dias e Ferrinho, Mariano da Silva e Caçula, Mandi e Sorocabinha (Olegário José de Godoy).

Nesta primeira etapa saiu com 9 números de humorismo interpretados pelo próprio Cornélio Pires e mais 3 danças paulistas, - um samba paulista, um desafio, e intercalados uma cana verde e um cururu.

Cornélio encheu o carro de discos e saiu pro interior pra divulgar e vender os discos, e pra grande surpresa de todos foi o maior sucesso.

No segundo suplemento de 5 discos, foi que a dupla Mariano e Caçula gravou e lançou em outubro de 1929 a primeira moda-de-viola gravada no Brasil "Jorginho do Sertão". Cornélio e sua turma caipira, viajaram por vários municípios do interior de São Paulo.

Fizeram apresentações na capital sempre com muito sucesso. Tinha de repetir as apresentações, a pedido do público. O fracasso em que o diretor da gravadora Colúmbia apostou, não aconteceu. As pessoas faziam filas na gravadora tentando adquirir os discos.

Foram gravadas no total 104 músicas em 52 discos de 78 rotações, de 1929 a 1930.

Foi na Turma Caipira Cornélio Pires que surgiu Raul Tôrres, que usava na época o nome de Bico Doce.

Portanto a Década de 20 foi o início da Revolução Musical Caipira.

DÉCADA DE 30
Foi na década de 30 que ocorreu a formação das primeiras duplas caipiras, tais como:

- Arlindo Santana e Joaquim Teixeira

- Alvarenga e Ranchinho

- Irmãos Laureano

- Jararaca e Ratinho

- Mariano e Cobrinha

- Raul Torres e Serrinha

- Torres e Florêncio

Como compositor surge João Pacífico, autor de grandes sucessos como "Cabocla Tereza", "Chico Mulato" e "Pingo D’água".

Foi nesta década também que se revelou no cenário caboclo Ariowaldo Pires, mais conhecido como Capitão Furtado.

Raul Torres foi ao Paraguai em 1935 e reivindicou a introdução dos rasqueados e guarânias na música caipira, que nesta época era chamada de música sertaneja.

DÉCADA DE 40

A Década de 1940 foi a época da consolidação da música caipira.

Foi nesta década que começou a surgir os grandes nomes da música caipira que a eternizaram para sempre, tais como:

- Anacleto Rosas Júnior, compositor de sucessos como "Cavalo Preto" e "Os Três Boiadeiros".

_ Carreirinho, grande compositor e grande cantador, que fez dupla com Zé Carreiro durante mais de duas décadas. Consagraram-se com os sucessos "Canoeiro" e "Ferreirinha".

_ Cascatinha e Inhana, dupla premiada e referência de sucesso. O duo com o dueto mais perfeito de todos os tempos.

_ José Fortuna, autor, dentre outros grandes sucessos, da adaptação da guarânia Índia, interpretada por Cascatinha e Inhana. Foi um dos maiores poetas de toda a história da música sertaneja. Ao lado de seu irmão Pintangueira, alegrou o Brasil durante muitos anos com suas belas interpretações.

_ Lourival dos Santos, que deixou grande nome na história. Entre seus grandes sucessos destacamos "Pagode em Brasília", que foi o maior marco de sua carreira.

_ Mário Zan, italiano de nascimento e caipira de coração, criador da música "Chalana".

_ Nhô Pai, compositor de grandes sucessos, entre eles "Beijinho Doce".

_ Palmeira, que além de grande compositor também formou dupla com Piracy, depois com Luizinho, e por último com Biá. Na década seguinte se tornou diretor musical da gravadora Chantecler e criou em 1959, o selo sertanejo.

_ Tonico e Tinoco, dupla de irmãos: sinônimo de sucesso e autenticidade. Considerada a maior e melhor dupla sertaneja de todos os tempos.

Tonico e Tinoco é uma dupla que dispensa qualquer apresentação. Foram eles que consolidaram a música sertaneja para sempre. É a dupla mais completa, que conquistou várias gerações, deixando uma legião de fãs e admiradores por onde passaram. Entre seus grandes sucessos destacamos "Moreninha Linda", "Cana Verde", "Curitibana", "Cabelo de Trança", "Cabocla", "Pé de Ipê", Eu e a Lua", "Adeus Morena Adeus", "Chico Mineiro", "Tristeza do Jeca" entre tantos outros. Além de grandes intérpretes, foram também atores de cinema e de teatro, onde atuaram em 7 filmes, e levaram 25 peças teatrais em suas apresentações circenses durante mais de 40 anos. São considerados "A DUPLA CORAÇÃO DO BRASIL".

DÉCADA DE 50

A Década de 50, foi considerada o Período de Ouro da Música Caipira, pois foi nesta década que surgiu parte dos grandes nomes da música caipira, tais como:

_ Teddy Vieira, compositor do primeiro escalão caipira, e foi o responsável pelo surgimento da maioria das duplas desta década.

_ Vieira e Vieirinha, levaram a catira (que andava meio esquecida) para a música caipira. Iniciaram a carreira em 1950, com a ajuda de Tonico e Tinoco e de Teddy Vieira.

_ Zico e Zéca, iniciaram a carreira em 1953, com a ajuda de Teddy Vieira, e fizeram sucesso durante muitos anos.

_ Inezita Barroso, a paulista de classe média apaixonada por cultura caipira. Iniciou sua carreira em 1953.

_ Pedro Bento e Zé da Estrada, dupla que trouxe a cultura mexicana para a música caipira. Exageraram nos trajes e trejeitos mexicanos, tendo iniciado a carreira em 1954.

_ Irmãs Galvão, iniciaram a carreira profissional em 1955.

_ Tião Carreiro e Pardinho, entre idas e vindas, uma dupla que transcendeu o tempo e balançou o chão brasileiro. Iniciaram a carreira em 1956, também com a ajuda de Teddy Vieira.

_ Leôncio e Leonel, Sulino e Marrueiro, e Zilo e Zalo, iniciaran a carreira em 1956 também com a ajuda de Teddy Vieira.

_ Liu e Léu, irmãos de Zico e Zéca e primos de Vieira e Vieirinha, iniciaram a carreira em 1957, também com a ajuda de Teddy Vieira.

_ Elpídio dos Santos, autor das canções de 23, dos 32, filmes de Mazzaropi.

Outros grandes talentos também surgiram nesta década, como: Biá, Goiá, Dino Franco, Zacarias Mourão, Teixeirinha, Caçula e Marinheiro, Zé Fortuna e Pitangueira, Brasão e Brasãozinho, Silveira e Barrinha, Campanha e Cuiabano, Duo Ciriema, Duo Guarujá, Duo Glacial, Nenete e Dorinho, Nonô e Naná, entre tantos outros.

Todas as décadas foram de extrema importância na música raiz, mas foi na década de 50 que surgiu a maioria dos grandes nomes, e a música caipira começou a ganhar mais espaço no rádio.

Foi na década de 50 também que surgiu a TV no Brasil, e também pela extinta TV Tupi teve as primeiras apresentações caipiras.

Tonico e Tinoco participaram da inauguração da TV Tupi.

Foi no ano de 1958 que surgiu a primeira revista voltada pro estilo caipira, por nome "Revista Sertaneja" pela extinta Editora Prelúdio, a qual foram lançados 20 volumes entre os anos de 1958 e 1959.

Foi na década de 50 também que o caipira ganhou espaço no cinema brasileiro, com Mazzaropi.

DÉCADA DE 60


A Década de 60, foi o início da desaceleração.

A música caipira começou a perder espaço com o avanço da televisão, principalmente para a bossa nova.

Foi uma década também marcada por importantes festivais, como o da Rádio Nacional, onde se revelaram alguns novos valores.

Mesmo havendo esta perda de espaço com o avanço da tecnologia, foi uma década muito importante na música sertaneja.

Foi nesta década que surgiram Craveiro e Cravinho, Belmonte e Amaraí, Abel e Caim, Canário e Passarinho, Lourenço e Lourival, Gilberto e Gilmar, entre outros.

Como compositores destacam-se nesta década Luiz de Castro e José Caetano Erba.

Em 1963 a dupla Tonico e Tinoco decidem ir para o cinema e estréiam com "Lá No Meu Sertão", gravado na cidade de Descalvado/SP, nas Fazenda da Lagoa Alta e Fazenda Santa Maria. Neste filme Tonico e Tinoco contam a sua própria história até o momento.

Em 1965 participam do Filme "Obrigado a Matar", gravado na cidade de Bofete/SP. Este filme foi baseado na Lenda de Chico Mineiro. O nome “Chico Mineiro”, não pode ser utilizado, porque o senhor Francisco Ribeiro, um dos compositores da música, não autorizou o uso do nome. É a história de dois irmãos que separaram ainda pequenos, e quis o destino que se encontraram muitos anos depois, e somente a morte revelou o parentesco entre eles.

Em 1969, Tonico e Tinoco voltam às telas do cinema com "A Marca da Ferradura", gravado na Aldeinha de Carapicuíba/SP.

Estória Baseada na Peça Teatral "A Marca da Ferradura", de autoria de Oliveira Filho e Tonico, contando que um homem cruel, que matara a mulher por ciúmes e que odeia a filha cega, domina a região rural do interior de São Paulo. Regressando à cidade depois de muitos anos, Tonico e Tinoco disfarçam-se em mascarados e procuram fazer justiça. O homem cruel, num último acesso de fúria, se converte quando a filha, no altar de Nossa Senhora, recupera a visão.

A década de 60 foi uma época de reformulação da música caipira, onde passou a ser usada guitarra e instrumentos elétricos nas gravações, tornando-a mais moderna.

Eu classifico a década de 60 como sendo já a segunda geração da música sertaneja.

Sim, digo sertaneja, porque a partir daí ela vai deixando de usar o nome de caipira e passando a usar o nome de sertaneja, devido as influências e novos ritmos que passam a fazer parte do gênero.

Mas isso não significa que nossos tradicionais artistas se converteram. Muito pelo contrário, pois quando a gravadora Continental exigiu que Tonico e Tinoco colocassem guitarra elétrica em suas gravações, eles ficaram sem gravar durante dois anos.

DÉCADA DE 70

A década de 70 foi uma época de grandes mudanças na música sertaneja. Foi a década dos últimos suspiros de uma época áurea.

De 1970 pra frente a música caipira vêm atravessando caminhos tortuosos. O movimento de “modernização” da música caipira culminou com o nascimento do chamado “jovem sertanejo”, que trouxe instrumentos eletrônicos e composições que nada tem a ver com o ambiente e a vida do caipira.

Porém teve muitos acontecimentos marcantes nesta década, como o surgimento do programa "Linha Sertaneja Classe A" em 1973 e do programa "Zé Béttio" pela Rádio Record de São Paulo, os quais foram líderes de audiência durante muitos anos.

Apesar de toda essa modernização ainda surgiram boas duplas defendendo a tradição caipira, como é o exemplo de Taviano e Tavares, Zé do Cedro e João do Pinho, Ronaldo Viola e João Carvalho, João Mulato e Douradinho, Irmãs Freitas, André e Andrade, Cacique e Pajé, Lorito e Loreto, entre outros.

Já na categoria moderna surgiram Milionário e José Rico, Trio Parada Dura, João Mineiro e Marciano, Duduca e Dalvan, Juliano e Jardel, Joaquim e Manuel, entre outros.

Cézar e Paulinho também surgiu nesta época. Iniciaram cantando músicas raízes, depois também aderiram ao movimento modernista.

Em 1974 o cantor Renato Teixeira grava a música "Romaria", a qual serviu pra ganhar mais espaço e quebrar certos preconceitos que ainda existiam em relação ao caipira.

Foi nesta década também que começamos perder nossos grandes valores, como por exemplo: Raul Torres, Zé Carreiro, Alvarenga, Marrueiro, Capitão Furtado, Serrinha, entre outros.

Tonico e Tinoco por serem a dupla mais tradicional e mais completa de toda história da música sertaneja lançam em 1978 em disco a sua auto-biografia no LP "36 Anos de Vida e Glória".

Outro grande acontecimento nesta década foi a apresentação da dupla Tonico e Tinoco no Teatro Municipal em 1979, coisa que jamais acontecia: uma dupla caipira adentrar o Teatro Municipal de São Paulo. E pra surpresa de todos foi o maior sucesso, e o fracasso que o pessoal do teatro esperava não aconteceu.

DÉCADA DE 80
Na Década de 80, aconteceram fatos marcantes na história da música sertaneja. Como por exemplo, em março de 1980 estréia na TV Cultura o Programa Viola Minha Viola, incialmente apresentado por Nonô Basílio e Moraes Sarmento, depois por Moraes Sarmento e Inezita Barroso, e depois só por Inezita Barroso que permanece até os dias de hoje.

O Programa completa neste ano 34 anos consecutivos no ar. Esta foi uma das maiores conquistas da música sertaneja.

Nesta década a Rede Globo de Televisão abre espaço pra música sertaneja raiz, que até então nunca cedeu espaço algum.

Em 1982, Sérgio Reis passa a atuar na novela "Paraíso", e aos domingos Rolando Boldrin passa a apresentar o programa "Som Brasil" trazendo importantes nomes da música sertaneja raiz, depois passando a ser apresentado por Lima Duarte.

O SBT também rompe os preconceitos e abre uma programação sertaneja aos domingos e segundas-feiras. Aos domingos a dupla Tonico e Tinoco apresenta o programa "Festa na Roça", entre outros programas que passam a fazer parte da grade de programação.

Alguns grandes nomes também surgiram nesta década, como foi o caso do violeiro, cantor e compositor Almir Sater.

Apesar de todas essas evoluções, foi também nesta década que começou a deturpar a verdadeira cultura caipira, com o surgimento de novas duplas gravando músicas comerciais, visando somente o lucro e com isso acabando com a qualidade. Surge então o famoso "jabá" que veio acabar com tudo. As grandes emissoras de rádios só tocam se pagarem um alto valor, com isso tirando o espaço daqueles que lutam dignamente. Surge os cachês milionários e passam a tomar conta de todas as festas, fechando o espaço dos artistas que lutam há anos. Os circos começam a perder espaço e aos poucos foi entrando em extinção.

DÉCADA DE 90

Na Década de 90, infelizmente foi marcada por muitas perdas na música sertaneja. Grandes nomes que muito contribuíram pra nossa verdadeira cultura caipira passam para o andar de cima como Vieirinha, Tião Carreiro, Tonico, Cascatinha, Moacyr dos Santos, Lourival dos Santos, Pajé, Silveira, Nhá Gabriela, Peão Carreiro, Nonô Basílio, João Pacífico, Ranchinho, Ranchinho II, Sorocabinha, Moreno, Barrerito, Brioso, Xavantinho, João do Pinho e Zé Côco do Riachão.

Foi nesta década também que começaram a se perder nossos valores, pois a máfia da mídia entra em ação, esmagando a nossa cultura e tirando o espaço dos nossos artistas. As grandes emissoras de rádio e televisão passam a aderir o famoso “jabá”.

Os circos que até então era de fundamental importância para o sustento de muitos artistas, começa a entrar em extinção, surgindo então as festas de peão e feiras agropecuárias.

A música sertaneja passa a perder a qualidade, começa-se a gravar as chamadas “músicas comerciais”, e diversos ritmos que nada tem a ver com a nossa raiz passam a ser gravados. As verdadeiras raízes começam a perder a sua essência, e os “sertanojos” invadem o mercado, tirando o espaço daqueles que tanto lutaram pra conseguir o seu espaço. As grandes emissoras de rádios e TVs e as grandes festas aderiram ao movimento dos falsos “sertanejos”, e surgem os cachês milionários.

A alta tecnologia trouxe a facilidade, porém acabou com a qualidade.

NOVO MILÊNIO

infelizmente de 2000 pra cá, inúmeros artistas que representam a música sertaneja raiz nos deixaram, e muito poucos artistas defendendo a nossa tradição surgiu desde então.

Entre os poucos que surgiram neste novo milênio, destacamos Sônia e Thiago, Thiago Raja, Lucas Reis e Thácio, Otávio Augusto e Gabriel, Bruna Viola, Taís Picinini, Fernando e Osmair, Marcos Violeiro e Cleiton Torres, entre outros.

O mercado foi invadido por um novo estilo musical, que recebeu o nome de "sertanejo universitário", que na verdade de sertanejo não tem nada. Na minha opinião isso não passa de um "lixo musical". Músicas que denigrem a imagem da mulher.

Sertanejo não é nada disso. O verdadeiro sertanejo é aquele que defende as nossas raízes, que representa o homem do campo.

Antigamente se mostrava as coisas bonitas da roça pro povo da cidade, porém hoje se mostra a pouca vergonha da cidade para o povo da roça.

Acho que todos tem o direito de sobreviverem e há espaço pra todos, mas o que não aceito é que usem o nome do "sertanejo" de maneira indevida, como é o caso desses "falsos sertanejos". Pois que dêem outro nome pra esse estilo musical, e não de sertanejo.

Vamos respeitar a memória daqueles que tanto batalharam pra abrir esse espaço, que enfrentaram a dura vida e os preconceitos da época. Com toda essa facilidade e tecnologia que tem nos dias de hoje, deveria se fazer um uso melhor das oportunidades.

O espaço na mídia está cada vez mais escasso, mas por outro lado com o avanço da tecnologia, através da internet se abriu um novo espaço, através das web rádios e sites que contam a história da verdadeira música raiz. E são essas web rádio e sites que ainda salvam a nossa tradição.
Entre as web rádios destacamos a Ser Tão Brasil, Web Music, Viola de Ouro, Viola Viva, entre outras. E entre os sites que defendem a música caipira, destacamos o  Clube do Caipirão e o Ricardinho Boa Música

a historia da moda menino da porteira

MENINO DA PORTEIRA

(Letra: Teddy Vieira / Música: Luizinho / Interprete: Sérgio Reis)




Originalmente, a música “Menino da Porteira” foi gravada em 1955, pelo trio Luizinho, Limeira e Zezinha. Mas o objetivo deste texto é apresentar o que uma música bem-feita, com uma estória consistente pode fazer na vida de um compositor e um cantor.

O artigo de hoje conta a história da regravação de um clássico, que dezoito anos depois de sua primeira gravação, causou um impacto enorme na carreira de dois grandes artistas brasileiros, o compositor Teddy Vieira e o cantor Sérgio Reis.

Quem foi Teddy Vieira?

Teddy Vieira nasceu em 1922 na cidade de Itapetininga (região de Sorocaba) no interior do estado de São Paulo.

Teddy Vieira
De família de padrão social razoável, estudou o primário em sua cidade natal e seguiu para São Paulo para concluir seus estudos. Se formou em administração e chegou a ocupar o cargo de Diretor de Finanças da Prefeitura de São Paulo, equivalente ao atual Secretário da Fazenda, que é responsável pelas finanças do município.

Teddy Vieira de Azevedo se tornou compositor por acaso, pois era totalmente autodidata em se tratando de conhecimento musical.

Começou a escrever seus versos caipiras aos 18 anos e aos 23 anos teve suas duas primeiras canções gravadas, “Preto de alma Branca” e “João-de-Barro”.

As letras das músicas de Teddy Vieira sempre tinham um fundo de moral, pois procurava transmitir a importância do trabalho e ensinamentos. Por meio de fábulas, retratava situações para fazerem as pessoas refletirem, com o objetivo de pregar bons exemplos.

Muito observador e apaixonado pelo universo rural, incluiu em suas canções os cenários tomados de rebanhos de gado, peões e outros personagens em canções antológicas.

Além da música “Menino da Porteira” que o consagrou como compositor, Teddy Vieira também compôs as músicas “A Caneta e a Enxada” (em parceria com Capitão Barduino e sucesso nas vozes de Zico e Zeca - 1956), “Boiadeiro Errante” (sucesso nas vozes de Liu e Leo – 1959), “Pagode em Brasília” (em parceria com Lourival dos Santos e sucesso nas vozes de Tião Carreiro e Pardinho - 1961), “Rei do Gado” (sucesso nas vozes de Tião Carreiro e Pardinho - 1961), e outras 300 músicas sobre o tema caipira.

Teddy Vieira

Apesar de Teddy ter escrito muitas músicas em parceria, segundo os amigos mais próximos, ele teria cedido coautoria para ajudar um ou outro amigo.

Além de compositor, Teddy Vieira era um grande violeiro. O som de viola, na introdução da música “Menino da Porteira” gravada em 1955, foi tocada por ele.

Em meados dos anos 50 e início dos anos 60, Teddy Vieira foi Diretor do Departamento de Música Sertaneja nas gravadoras Columbia e RCA Victor. Neste período lançou grandes artistas, entre eles Tião Carreiro.

O menino da Porteira

A inspiração para a letra da música veio das viagens que Teddy fazia para Andradas, no sul de Minas Gerais, próximo à cidade de Ouro Fino. O objetivo era encontrar a então namorada América Rizzo, que viria se casar anos depois.

América Rizzo e Teddy Vieira
O percurso era feito por estradas de terra e muito destes caminhos passavam por dentro de fazendas e sítios. Para cruzar entre uma propriedade e outra haviam portões de madeira chamados de “porteira”. Estas porteiras existem até hoje, porém atualmente são usadas somente para tráfego de animais. Porque nas estradas rurais, na divisa entre uma propriedade e outra foram colocados mata-burros, que facilitam o trânsito de veículos e pessoas, porém impede que os animais atravessem de uma propriedade para outra.

Foto de um Mata-Burro
Numa dessas travessias, já incomodado pelo calor que fazia e pela necessidade de abrir e fechar porteiras, quando se aproximou de uma propriedade, Teddy observou que um menino vinha correndo em sua direção. O garoto abriu e fechou a porteira assim que ele passou. Agradecido, Teddy pegou uma moeda no bolso e lançou em direção à criança. O garoto agradeceu e continuou seus afazeres.

Teddy ficou pensando naquela cena e logo imaginou uma história, que poderia se transformar numa música. Diferente do que muitos pensam, com exceção do menino que abre a porteira, os fatos contados na música não são reais.

Johnny Johnson, do mundo para o Brasil

Houve uma época na história da música Brasileira, que para fazer sucesso, o cantor tinha que cantar em inglês e principalmente ter um nome artístico em inglês.

Diversos artistas que hoje são sucesso no Brasil passaram por esta situação. Entre eles, destacam-se Mark Davis (Fábio Junior), Don Elliot (O Ralf da dupla Christian e Ralf), Morris Albert (Maurício Alberto Kaisermann), cantor e compositor da balada romântica Fellings (gravada em 1975) e Johnny Johnson, nome artístico adotado por Sérgio Reis no início da carreira.

Sérgio Reis
A mudança do nome de Sergio ocorreu em 1958, quando descoberto por Tony Campello (cantor, produtor musical e irmão da cantora Celly Campello, precursora do rock no Brasil, quando gravou em 1959 a versão em português da música “Estupido Cupido”), foi recomendado para uma entrevista na gravadora RCA Victor. 

O executivo da gravadora, Diogo Mulero (o cantor Palmeira), não gostou do nome Johnny Johnson, e quis saber seu nome de batismo, porém ao ouvir do cantor o nome Sergio Bavini (herança do pai italiano), sugeriu que ele encontrasse um outro nome. Foi então que se lembrou do sobrenome da mãe, “Reis”. Que tal Sergio Reis? Disse o cantor. O executivo testou a sonoridade do nome e achou bom, mas antes, quis saber a opinião de outro executivo da gravadora que estava presente, Teddy Vieira, que concordou com o nome.

O estilo musical seguido por Sergio Reis no início da carreira era o romântico. Foi inspirado pelo pai e pelos tios que eram cantores de serestas e suas principais referências eram Carlos Galhardo, Orlando Silva e Nelson Gonçalves. Se apresentava em bares e boates.

Nos anos 60, se tornou ídolo do movimento da Jovem Guarda, quando gravou a música “Coração de Papel”, escrita por ele mesmo.

Sergio Reis também é compositor e entre os anos 60 e 70 compôs músicas para os cantores Deno e Dino, Os Vips, Golden Boys, Clara Nunes, entre outros.

Porém com o fim do programa Jovem Guarda, Sergio Reis desapareceu da mídia, não era mais convidado a participar de programas de televisão ou de rádio. Porém continuava fazendo seus shows.

Os primeiros passos cantando Música Sertaneja

Em 1972 Sérgio Reis gravou a música “Menino da Gaita” uma versão escrita por ele da música “El Chico D' El Armônica”, composta por Fernando Arbex.

Decidido a voltar à mídia, criou o áudio de uma propaganda de cerca de 15 segundos divulgando o novo disco e foi até o departamento comercial da rádio Tupi (uma das grandes emissoras de rádio da época) e com a ajuda da gravadora adquiriu um pacote de inserções em programas de sucessos da emissora. Em um mês, incentivado pela propaganda, a música se tornou um sucesso, pois era veiculado várias vezes ao dia, a pedido dos fãs.

Com o sucesso da música "Menino da Gaita", a procura por shows aumentou.

Uma destas contratações foi para se apresentar em um baile de debutantes em Tupaciguara-MG, cidade que fica a cerca de 70km de Uberlândia e terra natal da cantora Nalva Aguiar.  Eram cerca de 2000 debutantes que viviam na própria Tupaciguara e em cidades da região.

Tony Campelo
Ao término da sua apresentação, Sergio ficou ali nos bastidores, quando a banda contratada para o evento começou a tocar a música "Menino da Porteira". A comoção foi geral, todos os presentes cantavam junto e aplaudiam os músicos. Até então, Sergio não conhecia a música e ficou intrigado com a reação do público. 

Chegando a São Paulo, Sérgio procurou seu produtor, Tony Campello e disse a ele que havia encontrado um sucesso para o novo disco. O cantor foi incentivado pelo produtor a tentar, porém estava inseguro, porque seria uma mudança de estilo, nunca havia gravado uma música sertaneja e até aquele momento era conhecido por ser um cantor romântico.

Sérgio Reis foi orientado por Tony a fazer como Wilson Simonal, um dos grandes “Showman” do Brasil, que teve o auge de seu sucesso nos anos 60. Ele cantava as músicas preparadas para o repertório do próximo disco em seus shows e depois decidia se gravava ou não, de acordo com a reação da plateia.
Wilson Simonal

O local escolhido para a primeira apresentação da música foi a boate “Cafona” em Goiânia-GO (capital do estado), que apesar do nome, tinha grande prestigio na cidade e sempre contava com grandes números musicais. A apresentação foi um sucesso, as pessoas aplaudiam e pediam que repetisse.

Teste feito, Sérgio Reis gravou a música no disco que seria lançado em 1973. Começava ali a carreira de Sergio Reis como interprete de música sertaneja.

A repercussão foi tão grande que em pouco tempo tornou-se um grande sucesso. Nesta época músicas sertanejas não eram tocadas em rádios FM, porém em algumas cidades do interior era possível ouvir "Menino da Porteira" na voz de Sergio Reis.

Com o sucesso da música, em 1976, a história cantada se transformou em filme nas mãos do diretor de cinema Jeremias Moreira Filho. O próprio Sergio Reis foi convidado para ser protagonista, onde interpretou o peão de boiadeiro Diogo. Em 2009, foi produzido um remake do filme, dirigido pelo próprio Jeremias Moreira Filho, com o cantor Daniel no papel de Diogo.

Depois do Sucesso de Menino da Porteira, no disco seguinte, Sérgio gravou outro sucesso de Teddy Vieira, “João-de-Barro”, alcançando outro enorme sucesso.

Sérgio Reis
Em 1975 se consolidou como cantor de músicas sertanejas, quando gravou o disco Saudade de Minha Terra, onde interpretou a música tema do disco (composição de Goiá) além dos clássicos como "Chico Mineiro" (composição de Tonico & Tinoco), "Chalana" (composição de Mario Zan), "Cavalo Preto" (composição de Anacleto Rosas Jr), entre outras.

O que aconteceu depois?

Teddy Vieira morreu em 1965, vítima de um trágico acidente automobilístico na Rodovia Raposo Tavares, na região de Sarapuí e não viveu para ver sua obra ser redescoberta pelo grande público.

Até o ano de gravação de Menino da Porteira, a obra de Teddy Vieira vivia um pouco esquecida, inclusive a família de Teddy (a esposa e filho) viveu um período de dificuldades financeiras. 

A família de Teddy Vieira presenteou Sergio Reis com a viola que Teddy compôs a maioria de seus sucessos, em agradecimento por ter regravado suas músicas, pois foi com os recursos angariados com os direitos autorais que a viúva pode dar uma vida digna ao filho.

Em 2015, a prefeitura de Itapetininga ergueu uma estátua no centro da cidade, em homenagem ao compositor Teddy Vieira

Estátua em homenagem a Teddy Vieira - Itapetininga-SP

Sergio Reis também se destacou como ator. Atuou em cinco telenovelas: Paraiso (1982 - Rede globo), Pantanal (1990 – Rede Manchete), A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990 – Rede Manchete), O Rei do Gado (1996 – Rede Globo) e Bicho do Mato (2006 – Rede Record), sempre representando figuras sertanejas.

Sergio Reis foi indicado a cinco prêmios Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja. Com três prêmios conquistados, é o maior vencedor nesta categoria.

Em 2014, Sergio Reis foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo, com 45.300 votos.

Sérgio Reis sendo diplomado como Deputado Federal

Aos 75 anos, Sergio Reis continua firme na carreira, fazendo cerca de 16 shows por mês. Seu mais recente trabalho foi a gravação de um CD/DVD chamado Amizade Sincera, em parceria com seu amigo Renato Teixeira. Por este trabalho, foi premiado em 2015 com um Disco de Ouro, pela vendagem obtida.

Renato Teixeira e Sérgio Reis na gravação do DVD Amizade Sincera